Viver na Espanha tem seus problemas e coisas boas. Tem gente que mora sozinho em apartamento, ainda que normalmente rache com alguém para diminuir os gastos. Essa é, inclusive, uma prática extremamente comum até com gente que já não estuda, já que o aluguéis são sinceramente caros. Tem gente que busca lugar em residências universitárias, o que é uma solução prática para ter um all-in-one por uma taxa única, com almoço e/ou jantar e roupa lavada. Há também, inclusive, programas de dividir residência com idosos, vivendo em sua casa em troca de fazer companhia. E claro, o bom e velho programa de viver com uma família local, mais comum com estudantes de segundo grau, que não podem ficar sozinhos pela condição de menores.
Bem, como mencionei nos posts anteriores, fiquei com essa última opção, mas não através de um programa de referência. Fui convidada por Pilar a morar na casa dela, em Toledo, a 70 km de Madri. Pili é uma menina muito doce e durante meio ano estivemos trabalhando nos preparativos, porque ela vive com os pais e dois irmãos mais velhos, e ainda tem uma penca de família que vive vindo e saindo. Estava nervosíssima que eu fosse achar tudo desarrumado e horrível e que não ia me adaptar a viver com sua família. E eu, nervosíssima que fossem me odiar, me achar feia, chata e burra e que me tacassem no olho da rua, ou que realmente os santos não batessem na casa e ficasse insuportável. Foi um tiro no escuro… mas a vida é feita de alguns riscos.
E um mês depois a vida está ótima por aqui. Fui supermega bem-recebida, sou bem-tratada e até meio mimada. Por sorte ou conjunção astral, sua família lembra muito a minha, e são muito unidos. Os irmãos são umas figuras, e apesar de todo muito estar meio tímido a princípio agora já me tratam com bastante naturalidade. E como eu adoro ambiente familiar, com cachorro, gato, papagaio e bicho-da-seda (as crianças criam bichos da seda aqui!!), me encantou a simplicidade e o carinho que me dedicam e com uns aos outros.
Agora, o mais legal é observar hábitos de uma família espanhola normal, e sinceramente me divirto. Vamos ver alguns:
Pão: É tiro e queda: toda refeição tem pão acompanhando, pra comer junto e para raspar o prato depois (o que é uma grosseria fora de casa, mas comum dentro). E não é um pãozinho francês não: normalmente se compra uma “barra”, um pão comprido, de massa parecida com o francês, e se tira um pedaço pra comer junto com a refeição. E café da manhã se comem tostadas, esse pão na chapa.
Azeite: Aqui no armário de casa tem trocentos tipos de azeite diferentes. Muitos espanhóis comem tostadas com azeite, em vez de com margarina ou manteiga. E já escutei alguém reclamando que tal azeite usado pra colocar na salada não era virgem, extra-virgem ou não sei o quê. Olha, pra mim azeite é azeite, coloco na pizza e tô feliz. Só que quando teve pizza e eu pedi azeite, eles ficaram me olhando com cara de “você é doida?”.
Pizza: Não se coloca azeite na pizza. Nem ketchup, mostarda ou maionese. Pizza é pizza e acabou.
Horários: A manhã espanhola vai das 8-9 às 14 horas, quando é hora do almoço. Às 16h o comércio volta e fica até às 20. As pessoas costumam jantar às 21-22 e vão dormir às 23 ou meia-noite. E não procure lojas abertas entre 2 e 4 da tarde, você não vai encontrar. Só lojas grandes e algumas lojas de chino (que são 1,99 que têm de tudo, mas de tudo MESMO). Galera fecha geral o comércio pra comer e tirar a sesta.
Sesta: É sagrada pra quem tempo pra tirá-la. É sagrada nos fins de semana. É sagrada.
Jamón serrano: Jamón significa presunto, mas pode esquecer o Sadia daí. Jamón serrano é uma das coisas de origem animal mais gostosas da face da Terra. E eu costumo evitar comer carne, mas jamón serrano, amigo, pode botar mais.
Vinho de caixinha: Você leu certo. Os vinhos de qualidade mais ou menos muitas vezes são vendidos em embalagens longa vida. Esses vinhos são para o dia-a-dia, ou pra colocar na comida. Aliás, romã com vinho branco é uma delícia.
Meninas em roupas fluorescentes para a night: Vi uma de rosa-choque-meus-olhos-ardem com uns saltos de 15 centímetros, e outra com estampas de onça, zebra e tigre juntas. E com o salto. Enquanto ainda havia luz do dia. Sem exagero.
Banheira: Banheiras são hiper-comuns por aqui. Na verdade, caro mesmo é chuveiro elétrico (!!!). A maioria das casas tem calefação e por isso a água esquenta por gás, não por eletricidade. E como dizem os espanhóis, banheiras são práticas para lavar crianças. Pilar ficou de cara quando eu disse que banheiras no Brasil são mais comuns em casas antigas, e que eu mesma nunca tinha tomado banho em uma.
Quando eu for percebendo mais coisas, vou anotando. Porque gente, tem é coisa. Você fica bastante admirado como pode ser tão parecido e tão diferente ao mesmo tempo. Vou tirar umas fotos do mercado!